quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Motivação: o que é e como implementar

Dra. Maria Ester Rodrigues 
Deduzimos a existência de motivação em alguém a partir da observação do seu envolvimento em determinada atividade. O envolvimento, geralmente, vem acompanhado de sentimentos de interesse e prazer em se dedicar à tarefa em questão. Já a falta de motivação é inferida pela observação de pouco ou nenhum envolvimento em uma tarefa.
Ao pensar sobre o encantamento e a magia em fazer coisas ou dedicar-se a algo, algumas perguntas nos ocorrem, tais como: A motivação está no indivíduo, a priori, ou fora dele? Um estado motivacional pró-ativo pode ser aprendido? No caso de ser inerente ao sujeito, porque se perde ou adquire-se motivação para determinadas atividades? Pode-se ensinar ou produzir motivação?

A visão de senso comum e a visão da psicologia tradicional são semelhantes em explicar a motivação como força interior ou traço de personalidade. Refere-se às necessidades, vontades, aspirações, desejos, impulsos e outras 'energias'; em outras palavras, motivos que estariam situados no interior do indivíduo. Porém, o que determina que a 'vontade' de alguém seja maior, menor ou inexistente? O que determina as necessidades? Uma visão mais atual e científica vê as necessidades e motivos como construídas na história de vida do indivíduo, dependentes de sua interação com o mundo físico e social, ao contrário de inatas ou inerentes aos sujeitos.

A visão tradicional dificulta ou mesmo impede a intervenção, ao passo que a visão atual/científica é mais otimista. Esta possibilita a conclusão de que, conhecendo o tipo de interação entre sujeito e ambiente, podemos conhecer sua motivação, entender a sua existência ou inexistência e, indo além, que podemos elaborar um plano de intervenção. Isso é válido tanto para intervenções escolares, como para as profissionais e para a vida pessoal.

Existem inúmeras operações e técnicas que tornam mais ou menos provável a ocorrência de motivação, bem como, qualquer outro tipo de comportamento público ou privado do indivíduo. O comportamento refere-se a qualquer coisa que dizemos, fazemos ou pensamos e que está relacionado às condições antecedentes nas quais o comportamento ocorreu no passado e às conseqüências produzidas anteriormente.

O que faz as pessoas se comportarem, agirem numa determinada direção, irem em busca de algo? Inúmeras conseqüências podem advir do envolvimento em atividades diversas, variando de conseqüências primárias como comida, bebida, atividade sexual, curiosidade, atenção, afeição/aprovação, etc.; até conseqüências mais sofisticadas como competição, dinheiro, desejo de reconhecimento, necessidade de afiliação a um grupo específico, necessidade de realização e inúmeros outros. Isso varia a depender da atividade em si e do valor atribuído àquela conseqüência específica, construído na história de vida do indivíduo ou do grupo social em que se insere.

E quando conseqüências específicas são fornecidas ao comportamento dos indivíduos e mesmo assim não ocorre incremento em sua ocorrência? Por inúmeras razões, dentre elas, por diferenças individuais no estabelecimento do valor daquela conseqüência. Em outras palavras, porque aquela conseqüência não tem valor para aquele indivíduo, de modo mais ou menos circunstancial e/ou definitivo. Também porque outros comportamentos incompatíveis podem estar obtendo conseqüências mais vantajosas naquele momento, ou, ainda, por inabilidade ou inconsistência na aplicação da 'recompensa'.

Em outros casos podemos interferir no grau de motivação de pessoas com quem convivemos e mesmo no grau de automotivação, aumentando a capacidade de superação de obstáculos e a realização no trabalho, nos estudos e na vida pessoal. Como? No caso de interferir em relação à motivação de outras pessoas outro artigo poderia ser escrito; porém, basicamente, abandonando um padrão de relacionamento hostil ou distante, provendo interações gratificantes e adotando um sistema de conseqüências positivas e sinceras, contingentes às ações que se deseja motivar.

Em relação à automotivação, devemos iniciar identificando o que é motivo para nós, ou em busca do que consideramos ser importante nos movimentar. Em seguida, identificando metas e submetas a serem alcançadas, bem como, estabelecendo prazos para atingi-las (que podem variar de hoje a alguns anos ou mais). Devemos procurar responder o que pretendemos conseguir em diferentes áreas da vida (saúde, espiritualidade, família, profissão, remuneração etc.) e estabelecer uma estratégia de ação com prazos definidos.

Quais são as metas ou objetivos mais motivadores? Os que estão associados ao que gostamos (ou que nos 'reforça', utilizando um termo técnico), os que estão associados às nossas capacidades e habilidades e, por último, mas não menos importante, as que são atingíveis. Caso cheguemos à conclusão de que não possuímos as habilidades para alcançar as metas que estabelecemos, devemos buscar desenvolver as capacidades necessárias para ir em busca do que nos interessa. Neste caso deveremos desdobrar as metas em novas submetas e rever plano e prazos estabelecidos.

Quando a psicoterapia é recomendada? Em casos em que o indivíduo não encontra motivos e prazer em praticamente nenhuma atividade, o que pode configurar um caso de 'depressão'. Neste caso a ajuda profissional (psicólogo clínico, psiquiatra ou ambos) é indicada. Também pode ser indicada para indivíduos que possuem objetivos, mas encontram dificuldade em sua consecução, ajudando no estabelecimento de objetivos factíveis, em consonância com seu nível de habilidade atual e em prazos realistas. Também ajuda na eliminação de possíveis distorções cognitivas ou crenças não favorecedoras de autorealização, além de incremento em autoestima.

3 comentários:

  1. A leitura me motivou a lhe sugerir mais cuidado com a expressão "a visão tradicional dificulta ou mesmo impede a intervenção, ao passo que a visão atual/científica é mais otimista" porque:

    (1) Tradição e ciência não são palavras antitéticas;
    (2) Atual e científica adjetivam algumas das teorias neste emaranhado campo das ciências que estudam o cpto. humano;

    Há também os mais puristas em GESTÃO que fazem questão de marcar diferenças entre o que sejam OBJETIVOS & METAS.

    O texto, não obstante, está muito claro e objetivo.

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  2. Olá Paulo,

    Eu entendo o seu porém a respeito de “atual/científica”, "tradição e ciência", mas mantenho a minha posição porque a análise do comportamento, na tradição filosófica behaviorista radical e na minha visão, é realmente uma posição mais atual em psicologia em relação a várias outras tradições, de caráter “mentalista” (grosso modo) e porque realmente é mais promissora e otimista em relação à possibilidade de intervenção e modificação de condutas. Isso sem falar na diferença entre ciências humanas e naturais, o que derivaria uma outra discussão na qual eu não vou adentrar aprofundadamente; mas obviamente a análise do comportamento apresenta maior influência das ciências naturais do que outras formas de ciência psicológica.

    Já sobre a diferença entre metas e objetivos eu confesso que não tenho domínio suficiente sobre administração/gestão para conhecer a diferença; o meu campo de domínio é realmente a educação e a intervenção. À propósito, se não se importar em mencionar, qual a diferença?

    Ester

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  3. Entendo a preocupação do Paulo, mas o contexto de todo o texto deixa claro o que se quer dizer com tradicional e atual. O texto é tão claro, que apresenta o conceito de motivação de forma que ele é facilmente assimilado.

    Parabéns!

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